Mato Grosso vive, há muitos anos, acostumado com um Estado meio pai, meio padrasto no campo cultural. Meio pai porque o Estado sempre decide tudo: quais as prioridades, quais as políticas, onde e quanto investir. Meio padrasto também, na medida em que somente alguns poucos desfrutavam dos benefícios do investimento público, enquanto a maioria da população amarga a indiferença e o preconceito.
Porém, a revolução cultural do século XXI virá da rebeldia silenciosa contra as regras da grande indústria. Já está acontecendo. Milhares e milhares de pessoas espalhadas pelos quatro cantos de Mato Grosso produzindo e compartilhando bens culturais, expressões da infinita diversidade cultural humana. Este sinal dos tempos requer acesso, liberdade e ousadia. Por isso, acredito que toda política cultural contemporânea deva ter sua própria “pedagogia da autonomia”.
As políticas culturais do Governo Silval Barbosa estão sendo debatidas e formuladas pela sociedade. Muitas pessoas, ansiosas após tantos anos de silêncio, têm se doado entusiasticamente ao processo de construção democrática. Outros tantos, porém, não conseguem enxergar validade nesse diálogo e o consideram “perda de tempo”. E desses tantos que consideram a cultura “perda de tempo” se encaixa perfeitamente o nobre deputado peemedebista, líder de governo, Romoaldo Aloisio Boraczynki Júnior, que durante entrevista publicada pelo jornal Folha do Estado, no dia 22 de fevereiro, onde declarou ser favorável a extinção da Secretaria de Estado de Cultura de Mato Grosso.
O nobre deputado, “pau rodado”, demonstrou ser um leigo no que se diz respeito à cultura cuiabana. O deputado Romoaldo não é matogrossense, não tem raízes, e literalmente provou que não tem respeito com os matogrossenses que concentram aqui fortes raízes culturais. Isso é uma vergonha, o líder de governo deveria defender os interesses públicos, ao invés de pedir a extinção da principal Secretaria do Estado.
Como já dizia meu pai, é o fim dos tempos. Seria um absurdo extinguir uma pasta que demorou anos de luta para se consolidar. Seria o mesmo que extinguir a cultura cuiabana. À população,agradeço a dedicação e a coragem de dividir a responsabilidade pelo desenho de uma política pública. Aos demais "Romoaldo Júnior e companhia ltda", peço que não esperem que este governo assuma o papel nem de pai nem de padrasto, por que o clamor público não vai apoiar.
A integração de Mato Grosso vive além da conjuntura política, a sociedade matogrossense está mobilizada para tornar efetivo o clamor por transformação, e não pela possível extinção da nossa “Cultura”. A expressão que nomeia o evento, “Cultura Colaborativa” é derivada do fenômeno de práticas de colaboração e construção coletiva que começam a caracterizar a sociedade contemporânea.
Nós, que “ocupamos” o Estado, temos que aprender com o exemplo que a sociedade está dando. Temos que aprender a colaborar por um país melhor. Diante de uma conjuntura política e astral que permite sonhar e agir, são três os grandes desafios colocados para a Secretaria de Estado de Cultura de Mato Grosso: aumentar a presença do Estado na cultura, ajudar a constituição de um verdadeiro mercado cultural e ir além,ultrapassando Estado e Mercado, para permitir a ida ao palco de quem nunca saiu da platéia.
Aí eu pergunto como vencer esses desafios se o próprio líder de governo, porta voz do estado na Assembleia Legislativa é o primeiro a jogar pedras? Ao invés de atacar, o governo Silval Barbosa, deveria investir em bibliotecas, salas de cinema e teatros públicos, sobretudo nos municípios do interior. Há enorme carência de apoio público para a formação e qualificação de produtores culturais, técnicos e artistas. Cabe ao Estado a gigantesca empreitada de levar financiamento, acessibilidade e tecnologia aos mais pobres produtores e consumidores de cultura e,em Mato Grosso, essa tarefa esta sendo vedada pelo próprio governo.
Acredito que a Secretaria de Cultura, batalhará com brilhantismo para garantir à diversidade cultural matogrossense a prioridade que sua história e desempenho exigem, assim como já tem feito. Governos, autoridades, descruzem os braços, ao invés de guerrear com a cultura, se unam a ela, comecem a investir em: trabalho autônomo, cooperativas, redes de produção, economia solidária.
Abrir espaço para novos pintores, grupos de capoeira e poetas da praça, invista em artistas da terra. Apoiar o artesanato, as companhias independentes de teatro. Garantir acesso aos meios de produção e distribuição para independentes do vídeo, mídias alternativas ou emergentes bandas de rock. É nesse campo o apoio à produção da multidão que precisa acontecer a revolução cultural que Mato Grosso tanto espera e não na extinção das nossas raízes.
Felipe Alves
Fonte: www.santapolítica.com.br
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