quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Mais valorização e reconhecimento!

Todos os bailarinos brasileiros sonham em dançar fora, em uma companhia russa, inglesa, americana... São poucos os que querem continuar dançando no país do amarelo e verde. Mas a culpa não é dos bailarinos, e sim do país. Quem não iria preferir sempre dançar com a sua família, amigos conterrâneos, na plateia? Há algo mais injusto do que ser formado por mestres brasileiros, em uma escola brasileira, e não poder contribuir para a cultura do país que nasceu? Existem poucas companhias clássicas não por falta de competência, mas por falta de patrocínio, por falta de investimento, de olhares, de esperança.

Será que as autoridades não percebem que brasileiros não gostam somente de ir a estádios, mas grande parte também frequenta teatros? Para os bailarinos clássicos ouvirem os aplausos da idolatrada "pátria amada", muitos tem que dançar com o estômago vazio, com a preocupação de como irá pagar as contas, de até quando vai conseguir se sustentar. Muitos saem de uma cidade pequena para dançar em grandes cidades, que onde se encontram as grandes companhias clássicas, companhias estas que são poucas, e que nem sabem até quando vão sobreviver, não sabem até quando vão conseguir colocar o brilho nos olhares dos brasileiros.


É uma falta de incentivo revoltante; dói ouvir o salário dos jogadores de futebol, que não chega nem perto de uma dor de alongamento. Não é porque não falamos no palco que não temos vozes; não temos sentimentos e sonhos. Não é porque não gritamos que não queremos ser ouvidos por alguém que deixe de achar o ballet algo apenas bonito e cultural, e cultive algo que faça brotar oportunidades.

Seria muito mais confortável escolher ser médico, advogado, ou qualquer outra profissão, mas não escolhemos ser bailarinos, nosso coração escolhe. Não escolhemos passar dificuldades para realizar um sonho difícil, não ouvimos "Ballet não dá futuro" dos pais porque é nossa frase preferida, não choramos depois da aula por dor muscular, mas porque dói em pensar que o ballet realmente não vai dar futuro nesse país.

O ballet clássico por si só não é fácil, conseguir se sustentar dele é mais difícil ainda. Para saltar bem exige técnica, mas para saltar as dificuldades fora do ballet, é preciso ter força, vontade e foco. Admiro os grandes nomes brasileiros que hoje brilham no exterior, que são muitos. Mas me preocupa cada dia mais, quanto mais eles brilharem lá fora, menos o ballet clássico no Brasil vai brilhar, e terá cada vez menos chance de ser notado, e só depende de nós para não ser apagado. Porque uma nação que vive todos os dias com a violência em excesso, com o descaso com a saúde e educação, merece ter momentos de magia e sonho, porque enquanto nós lutamos e acreditamos na valorização da dança.

Bailarinos não querem viver de luxo, e ganhar milhões ao dançar; só querem o suficiente para se sustentar, porque por mais que o ballet alimente a alma, bailarino tem muita fome, de comida, de direitos e valorização. O ballet clássico apesar de ter seus passos em francês, muitos dos que os executam falam português em nome do Brasil, só falta o Brasil falar em nosso nome.
Lucas Splint

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