Há tempos eu não escrevo um texto questionador porque resolvi ficar quietinha no meu canto, mas tenho visto um desdém tão grande com o ballet clássico que resolvi falar sobre o assunto. Sim, desdém, e dos próprios bailarinos e bailarinas.
[...] Eu resolvi passear por várias páginas do Facebook para descobrir o que os bailarinos e bailarinas falam sobre ballet clássico.
Pausa. Eu fiquei chocada!
Dentre tantas coisas que me surpreenderam, talvez a mais incômoda tenha sido o uso indiscriminado da palavra talento. Uma foto de uma bailarina hiperflexível e a chuva de comentários: “Isso que é talento”.
Dança é movimento e ponto final.
Por isso, me digam qual técnica ninja vocês utilizam para saber, só de olhar para uma imagem, qual o grau de coordenação motora, equilíbrio e musicalidade de uma bailarina? Mais ainda, como alguém consegue analisar o seu nível técnico?
E olha que estou sendo legal. Geralmente, essas fotos mostram meninas desalinhadas fazendo uma força desmedida para sair bem na fotografia. Nem falarei das poses nas sapatilhas de ponta, porque eu choraria um mês, sem parar.
Pessoas de fora associarem ser flexível com ser bailarina, eu entendo. É o senso comum. Mas bailarinas dizerem isso? Além do mais, estudantes de ballet clássico não conseguirem reconhecer um developpé torto ou confundirem arabesque com penché? Só pode ser brincadeira.
Depois não adianta publicar nas redes sociais: “Eu amo ballet, sem ele eu não vivo”. Vive sim, está vivendo sem ele há muito tempo porque o que muitos têm propagado por aí não é, nem nunca foi, ballet clássico.
Nessa semana, faleceu o grande bailarino e professor David Howard. Em uma entrevista ele disse: “[...] se Vaganova fosse viva e pudesse ver o que está acontecendo, eu acho que ela se mataria”. Não apenas ela, não é? O Petipa, o Ivanov, o Bournounville, o Cecchetti, a Pavlova…
Daqui a pouco, não será mais necessário estudar tantos anos para ser bailarina. Bastará pegar uma seleção de ginástica rítmica e colocar em O lago dos Cisnes. Ué, hoje em dia a questão não é ser forte e flexível? Problema resolvido.
Sim, nem tudo está perdido, há algumas bailarinas dedicadas que conhecem ballet clássico muito bem. Mas isso deveria ser regra, não exceção.
Vamos mudar isso? Comecemos trocando o Facebook pelo YouTube. Menos fotografias, mais vídeos. Depois, por favor, vamos estudar técnica clássica. Vocês querem que eu explique como eu estudo especificamente sobre isso? Terei o maior prazer em fazer um post. Só não podemos deixar as coisas como estão. O ballet clássico não merece ser resumido a uma perna alta. Não mesmo.
Por Cássia Pires
Concordo com tudo o que vc disse ,e ressalto que não basta apenas ter performance de Ginastas e sim uma técnca verdadeira, vamos assistir espetáculos ,onde alguma academias consideradas as Bam bam bans no assunto não ensinam nem as bailarinas a estenderem os joelhos nas pontas .Canso de receber alunas ,onde as mães enchem a boca pra dizer ,fez tantos anos de Ballet e qdo vejo estão totalmente fora da técnica ou não sabem nem os nomes dos passos ,braços então nem se fala .Estou gostando muito da sua Fan Page ,outra coisa uma menina naquela idade percebe -se o esforço a que foi submetida ,não deveria nem ainda estar na ponta .Tudo bem alguns falarão "talentos nascem assim" ,mas devemos respeitar o crescimento natural e o desenvovimento cognitivo ,ósseo e muscular da criança .Obrigada pela oportunidade .
ResponderExcluirOlá Edna, obrigado por escrever...
ExcluirEsse é um dos grandes problemas que o ballet clássico sofre, toda vez que uma mãe põe sua filha para fazer aulas vai logo perguntando: demora muito para ela começar a fazer abertura? Meninas que passam anos "fazendo aulas de ballet" quando vêm para as mãos de professores que se importam com a técnica e o aprendizado da dança clássica de fato descobre-se que na verdade foram muitos anos e pouco aprendizado, além dos vícios que adquirem e teimam em perde-los.
Talento sem responsabilidade não leva a lugar nenhum, por isso sinto muito por muitas bailarinas que demonstram ter um grande futuro pela frente, mas por falta de responsabilidade e competência de alguns "professores" não chegam nem perto do que poderiam ser... É triste e lamentável!
Desculpem alguns erros ortográficos acima.
ResponderExcluir