sexta-feira, 18 de outubro de 2013

"Não posso, tenho ensaio”


Todo adolescente tem uma paixão de escola; uma paixão por cantores, por baladas, seriados e afins. Com Lisa não foi diferente. Ela se apaixonou sim, mas se apaixonou tanto que acabou se tornando um amor. E, diferente das amigas, ela se apaixonou pelo ballet clássico.

Ela andava nas ruas e pequenas bailarinas que passavam por ela a faziam pensar que estava indo na contra mão por conta da idade, mas ela não percebia que ela só teria que virar uma esquina a mais que elas para chegar ao destino desejado: o de ser bailarina clássica. E mesmo sabendo que precisaria percorrer um percurso maior e que encontraria alguns sinais vermelhos pela frente, ela acelerou e foi em direção ao mundo das sapatilhas, onde queria estar há tempos, mas que havia se perdido pelo caminho.

Era convidada para assistir filmes, para sair à noite, para aniversários, passeios e, embora os programas fossem diferentes, as respostas eram sempre as mesmas "Não posso, tenho ensaio”. Tornou-se cada vez mais ausente para os amigos e familiares, mas se tornava mais presente para ela - estava se encontrando. Embora parecesse sozinha em uma sala de ballet, na qual fazia questão de ensaiar depois do horário, ela estava acompanhada do desejo, do sonho, da identificação e da realização.

Lisa não se importava se estava no nível básico, pois ela sabia que para construir uma carreira ela precisaria primeiramente de base. Só tinha pressa para uma coisa, que era chegar cedo às aulas e, uma vez dentro sala, ela não se importava com o tempo. Fazia uma hora de aula se multiplicar, pois executava com tanto prazer que parecia que nunca acabava. Só olhava para o relógio para marcar a cabeça na pirueta, aí sim ela se preocupava em girar a cabeça mais rápido que os ponteiros.

Lisa não era alongada, mas não se impressionava com pés na cabeça. Preferia pôr o coração nos pés, sentir cada movimento. Sabia que flexibilidade era essencial, mas passageira. Com o tempo só sobraria o amor pelo ballet.

Quem não o tem, ao envelhecer não terá vestígios em si do que viveu enquanto tinha sapatilhas nos pés. Não se sentia diminuída ao lado de bailarinas profissionais; procurava aprender com elas, que já haviam passado por tudo o que ela passava. Não importa se mais novas, o fato é que também tiveram que aprender e um dia já foram alunas iniciantes, a idade é um detalhe.

Ela trabalhava e pagava suas aulas. Passou a trabalhar com mais prazer, pois sabia que o dinheiro terminaria em algo que lhe dava prazer. E que uma hora seria melhor que todas as 23 horas do dia, porque essa uma hora lhe proporcionaria um sorriso imenso e verdadeiro, denunciando uma felicidade eterna. O coque que ela fazia com seus cabelos, sempre era desfeito depois das aulas, mas o importante é que ela sempre se olhava no espelho e se via com ele.

A saia do ballet ela trocou por todas as de balada. Assim como posteriormente trocou "baladas" por "bailar", assim como trocou a adolescência pela eternidade, a bebida por algo muito mais viciante, no qual ela só ficaria "bêbada" depois de alguns "fouettés". Mentira, na verdade ela não trocou nada pelo ballet. Quando nasceu trocou o ballet por tudo, mas procurou e o achou, e o guardou no corpo e na alma, onde ninguém o arrancaria dela, nem ela mesma.

Toda história sempre tem um final, feliz ou triste, mas a Lisa é você, e você que é responsável por ele. Dou todo direito de mudar algumas partes, desde que não mude o destino, sendo ele o ballet, para sempre.
Por: Lucas Splint

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