Nostalgia, preparo físico e expressividade da dança ajudam a explicar maior procura, professora também vê fim de preconceito |
As sapatilhas de balé clássico guardadas no armário de Priscila Gassi por dez anos voltaram a calçar seus pés há quatro meses. Assim como a consultora, de 32 anos, várias mulheres retomaram a atividade depois de adultas. Uma ou duas vezes por semana, após o trabalho, elas se juntam a colegas estreantes que finalmente realizam o sonho de infância. A procura pela dança por essa faixa etária cresceu 50% neste ano em algumas escolas.
É o caso da Pulsarte, que abriu turmas há três anos. "As pessoas se cansaram da esteira. Quem frequentava academia vem com vontade de fazer um exercício que lida com a alma, querem trocar o movimento mecânico pelo expressivo", explica a diretora artística da escola, Simone Sant"Anna. Para ela, o balé se tornou válvula de escape para quem trabalha em escritório, mora em apartamento e vive condicionado pelo cotidiano. "É uma forma de liberar emoções e trabalhar o equilíbrio mental e corporal."
Bailarina dos 4 aos 22 anos, Priscila retomou as aulas na turma de iniciantes."Por causa da faculdade e do trabalho acabei parando, mas coloquei na minha cabeça que, quando desse, eu voltaria", conta. "Já emagreci e consigo ter mais resistência. Com bastante trabalho, a gente consegue chegar a um resultado legal."
Objetivos. E trabalho é o que não falta durante a aula. "Levanta essa cabeça, prende o abdômen!", pede o professor Wagner Alvarenga. Com bom humor, ele descontrai as alunas enquanto as orienta a melhorar a postura, resistência e flexibilidade. "Elas não vêm para a aula com o intuito de ser profissionais. Vêm para aprender e, por meio da dança e expressividade corporal, se condicionar", afirma.
A assistente administrativa Paula Hervencio, de 40 anos, fez balé dos 7 aos 8. Praticante de dança de salão por dez anos, resolveu voltar ao balé em 2009. "Quem fez sente aquela saudade. O balé modela o corpo, fortalece a coluna e ajuda na postura, coisas que não encontrei na dança de salão", afirma Paula.
Já a representante comercial Kátia Veiga, de 49, nunca havia feito balé. Há três anos, cansou da ginástica e se matriculou no Studio de Danças Marcia Pee. "Procurava uma atividade prazerosa para manter a forma. O balé foi um achado. Mas no início tive dificuldade em encontrar turma para minha idade. Cheguei a fazer aulas com adolescentes", conta Katia. Satisfeita com a dança, ela incentivou a filha de 24 anos a se matricular, também pela primeira vez. Segundo a diretora Marcia Pee, o balé para adultos é ofertado há três anos. À noite, são três turmas. "É o período mais procurado por causa do horário de trabalho das alunas."
No Ballet Carla Perotti, onde a demanda também cresceu, há aulas em grupo e também individuais. "As pessoas estão perdendo o preconceito de que é atividade para criança", diz a professora Fabiana Varkulja. "Além de animadas, as alunas adultas procuram não faltar, mesmo no dia em que brigam com o chefe."
Ana Bizzotto - O Estado de São Paulo
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