Existem várias maneiras de dançar e a habilidade de adaptação interessa às companhias.
“O balé clássico vive no imaginário da maioria como sendo uma coisa só, eternizada na imagem de uma bailarina diáfana e sua sapatilha de ponta dançando contos de fadas. Para uma grande parte dos que estudam dança, ele é o esperanto que habilita qualquer corpo a comunicar-se em qualquer tipo de dança. Curiosamente, apesar de muito populares, essas duas considerações não resistem a nenhuma investigação bem fundamentada sobre a sua possível pertinência. Tanto o balé clássico abriga métodos distintos, quanto o fato de alguém dedicar-se ao estudo de qualquer um deles com afinco não se converte num passe livre para o trânsito sem fronteiras entre todas as linguagens da dança. Ou seja, estudar balé não forma ninguém em butô.
“A questão em torno da sobrevivência do balé clássico interessa a muitos. Já até foi tema de seminários internacionais. Num mundo onde a produção contemporânea não reserva grande espaço para príncipes ou cisnes encantados, torna-se cada vez mais frequente a pergunta: deve-se estudar balé clássico para dançar os assuntos do nosso tempo? Mas, antes de responder a essa pergunta, deve-se atentar para o seguinte: balé clássico não significa uma única maneira de treinamento apesar de existirem princípios comuns partilhados por todas as suas diferentes formas de sistematização. O balé clássico que um profissional do Kirov Ballet estuda não equivale ao que estuda o seu colega do Royal Ballet, do Balé Real da Dinamarca, ou da Ópera de Paris. Cada uma dessas companhias produz corpos distintos de bailarinos com formação de um tipo de balé, que os capacita a dançar melhor ou pior determinados tipos de obras.
“Essas técnicas, que já vinham de raízes distintas, nunca pararam de se transformar. [...] Apenas para os menos informados a etiqueta ‘balé clássico’ continua sendo uma coisa única, universal. [...]“
Para continuar lendo o texto, aqui.
Helena Katz, “Balé clássico abriga pluralidade de estilos”, O Estado de S.Paulo, 2 jan. 2002.
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Texto de Helena Katz, uma das maiores pesquisadoras e críticas de dança do país, sobre a diversidade existente no ballet clássico. Enxergamos o ballet como algo único e indistinto, como se todos os bailarinos fossem iguais em qualquer lugar do mundo e todas as companhias falassem a mesma língua. É preciso reconhecer essas diferenças. Isso não significa classificá-las como melhor ou pior, são apenas caminhos distintos. Cabe muito mais a nossa escolha sobre qual estilo nos apraz do que dizer qual é o “verdadeiro ballet”. Isso não existe, embora muitos acreditem que sim.
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