Quando começamos a fazer balé, não importa a idade, sabemos que não será simplesmente dançar. [...]. Há regras e características muito bem definidas. Não só, há comportamentos que se repetem. É fácil reconhecer uma bailarina sem que ela precise dizer, e não estou falando de postura ereta.
Na Cia que participamos, todos se sentem especiais, não são simples mortais. Somos bailarinas. Não é “qualquer pessoa” que sabe dar pirueta tripla. Nos vangloriamos pelas horas de dedicação, pela exigência da perfeição. Agradecemos aos céus pela dor que sentimos, praticamente um atestado de que dançamos. Balé sem dor? Impossível.
A competição. O ego. A vaidade. A soberba. Os especiais dentre os especiais, aqueles que são melhores tecnicamente do que os outros, mas se acham melhores do que os outros e ponto final.
Melhores em relação a quê?
E o palco? Espaço de comunhão? Que nada! A disputa pelos holofotes acontece dos ensaios à coxia, atinge o grau máximo em cima do palco. “Olhem para mim! Só para mim!”
A tristeza. O sofrimento. A angústia. Quem faz balé conhece os três muito bem, não importa qual o papel da dança na sua vida.
Precisamos mesmo disso?
Eu quero a alegria, a tristeza vem de bônus ao longo da vida, não é necessário procurá-la.
Por favor, não se sintam ofendidos, não estou questionando as pessoas. Estou questionando um mundo que tem seu próprio sistema, independentemente de quem entra ou quem sai. Porque quase todos se moldam, não é? É legítimo querer entrar para uma Cia. E se ela tem regras, aceitemos, pois é a única maneira de fazer parte dela.
Quando fazemos balé sem nos preocuparmos com mesquinharias ou com uns e com outros, nós evoluímos mais e sem sofrer. Aprendo um pouco por dia, todo dia. Ficamos mais tranquilos. O que nos incomoda não entra em nossas vidas.
Antes achava que o grande problema eram os grupos em si. Mas não... Não são os grupos! Somos nós...!
O que fazemos para mudar isso? Não sei. Eu, realmente, não sei.
Autoria Cássia Pires e adaptação Cia de Arte Flor de Menina
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