quinta-feira, 7 de março de 2013

Nos acostumamos com as migalhas... (2ª Parte)

Segue a 2ª parte do desabafo de um artista que consegui expressar o que muitos de nós bailarinos sentimos, mas jamais tivemos a oportunidade e/ou coragem de falar.


"O que mais me intriga, e me entristece, em toda esta história, é parecer que nunca existiu e que não existam vários projetos sociais com dança no Brasil, como se fosse uma grande novidade implantar projeto educacional através da dança em nossas comunidades, outro questão é virem dizer que não temos “capacitação”, quer dizer que todos estes anos de estudo e trabalho na preparação de bailarinos que hoje integram como 1ª bailarinos as principais companhias pelo mundo, não demostra nossa qualificação como profissionais.

Todos os anos exportamos bailarinos para as mais diversas companhias e escolas, ganhamos os principais concursos internacionais, eles vivem por aqui buscando nossos talentos, que já saem daqui prontos, isto também não nos qualifica. Mais especificamente no Rio, posso enumerar milhares de projetos que há anos desenvolvem um trabalho digno em nossas comunidades, por pessoas que realmente conhecem e sabem das necessidades e especificidades de cada comunidade.

Agora, mais uma vez me questiono o que estas pessoas conhecem da nossa realidade? Por que investir nosso dinheiro em mais um projeto de dança, só por que vem de fora, ao invés de investir nos projetos que aqui já existem, e que sofrem todos os anos para continuarem trabalhando, um exemplo é o Projeto da Maré, que conta com cerca de 350 crianças, e que durante boa parte do ano trabalham sem o menor incentivo financeiro seja do governo, seja da iniciativa privada, trabalham por amor a causa, por acreditarem na força da mudança através da dança.

O que precisamos é de infraestrutura e investimento financeiro, se querem nos ajudar que invistam seus dólares, seus euros, suas libras aqui, mas isso aposto que eles não querem, se é um intercâmbio, vamos ver o quanto cada parte está colocando, não me venham com a história que eles vão entrar com a mão de obra e nós com os recursos, tipo ”conversa para boi dormir”. O que estou entendendo, é que querem criar aqui no Rio, mais um Bolshoi de Joinville, agora com o nome Royal Ballet, até quando continuaremos permitir que coloquem nosso dinheiro, sem sermos consultados, em “chancelas” internacionais, como se isso fosse garantia de sucesso e respeito, admiro a trabalho deles, mas dentro da realidade deles, na casa deles.

Esta aqui é a nossa casa, devemos acreditar, incentivar e investir na nossa gente, no nosso talento, nos nossos profissionais." (Jorge Teixeira)

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