quarta-feira, 6 de março de 2013

Nos acostumamos com as migalhas...

O que vem a seguir foi escrito (em duas partes) por Jorge Teixeira do Conservatório Brasileiro de Dança do Rio de Janeiro, um desabafo pelas mesquinharias que nos é dado e total falta de apoio e reconhecimento aos bailarinos brasileiros.

Gala Royal Ballet - 1ª Parte


Há muito tempo venho me questionando, por que temos que tolerar e aceitar tudo que nos oferecem, e ainda por cima temos que ficar calados, por uma questão ética ou puramente política, são companhias e bailarinos estrangeiros que nos são vendidos como grandes estrelas, são galas que com certeza só são apresentadas aqui, sinto-me agredido, desrespeitado, como se não tivéssemos o menor conhecimento ou a menor cultura. Ao sair do TMRJ (Theatro Municipal do Rio de Janeiro), na última sexta feira, após assistir a tão esperada Gala do Royal, pela qual paguei R$84,00 reais, saí me perguntando: Será que é este tipo de Gala, que eles apresentam no Royal Opera House, será que se fossemos nós que apresentássemos uma gala deste tipo ela seria tão bem aceita, como aceitamos pelo Royal?

Acredito que não, não posso acreditar nisso, claro que tiveram momentos que não posso deixar de destacar, como a qualidade, refinamento e amadurecimento técnico e artístico de um casal como Marianela Nunez e Thiago Soares e beleza plástica, elegância, acabamento e braços tão bem colocados, como da Sarah Lamb, que fizeram valer a noite e a incontestável qualidade dos cantores, mas uma Gala tipo “self service”, sem a menor preocupação com uma produção, trechos de balés sem ambientação, figurinos de estilos diferentes no mesmo Pas de Deux, remontagens sem respeito às tradições clássicas, interpretações equivocadas e com excessos, fora terem sido retirados do programa dois Pas de Deux, que foram muito bem ensaiados no dia anterior, por que o bailarino estava se sentindo mal, por sinal, o mesmo bailarino que dançou com tanto vigor e empolgação o Grand Pas de Deux de A Bela Adormecida, talvez ele não estivesse a fim de dançar tanto para tão desqualificado público.

Enfim uma total falta de respeito.

Mas de quem é a culpa? A culpa é nossa, porque há tempos, aceitarmos calados, por que somos educados e deixamos que nos chamem e nos tratem ainda, como subdesenvolvidos, alienados, idiotas. Mais uma vez eu me pergunto, qual será o verdadeiro interesse deste intercâmbio, o que esta por trás disto tudo, quem realmente é o verdadeiro interessado e beneficiado? O quanto está sendo investido do nosso dinheiro neste projeto? Quem está ganhando? Esta é a nossa prioridade? Quando estamos passando um momento em que os corpos artísticos do TM, estão tão desfalcados, precisando serem renovados, quando a agenda de espetáculos do Teatro é tão duvidosa.

Está na hora de reagirmos de cobrarmos nosso respeito, de nos impormos como tão bom artistas que somos, sabemos da importância e qualidade de uma companhia como o Royal Ballet, mas também sabemos do nosso talento, da nossa capacidade e qualidade de trabalho e da importância dos bailarinos brasileiros para a dança mundial, uma companhia que tem em seu corpo de balé, dois primeiros bailarinos, 4 bailarinos no corpo de baile e uma das mais promissoras promessas da Cia todos brasileiros, tem que respeitar nossa capacitação, como artistas, como preparadores, como educadores que somos.

Temos tradição, história, grandes mestres, grandes artistas, estrelas, poderíamos ter uma das melhores Cias.do mundo, mas infelizmente não temos, vivemos num país, de falsos valores, que só da valor ao que vem de fora, que não respeita seus artistas, que não investe na arte, num país que não da opção ao seu povo de escolha, que tem que exportar seus artistas por falta de estrutura, de oportunidade. E quando isso ira mudar, vamos continuar de braços cruzados esperando, vamos sofrer até quando?

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