Essa foi a pergunta que a Maria, leitora do blog "Dos passos da bailarina", ouviu do seu irmão ao mostrar para ele um vídeo do entrance de “A Bela Adormecida”. Ela não soube o que responder e sugeriu um post sobre o assunto.
Nós somos essas pessoas que fazem ballet. Afinal, o que nos leva a isso? Acho que há dois pontos importantes: um pessoal e um coletivo.
O primeiro diz respeito às nossas próprias questões. Cada pessoa tem lá os seus motivos para escolher, justamente, o ballet clássico. Realização de um sonho de infância. Projeto profissional. Amor pela dança. Paixão pelo estilo. Alta capacidade de dedicação. Atração pela dificuldade. Continuação da atividade de infância. Enfim, uma série de fatores.
O segundo é o que nos une. Quando pensei no post, logo lembrei das palavras de Kurt Froman, coreógrafo assistente do filme “Cisne negro”, em “A metamorfose do Cisne Negro”, documentário que acompanha o DVD do filme. Ele disse o seguinte:
“Você começa na barra, todo dia, até os profissionais; começa com os pliés e parte para os tendus. Então, o mundo do balé é muito regular, repetitivo e previsível. Há um certo tipo de personalidade que é atraído por essa estrutura, porque você sempre sabe o que vai fazer naquele dia, e é uma busca pessoal do ideal, sabe. Fazer o seu corpo alcançar algo que nunca alcançará. Você tenta conseguir uma linha bonita, girar as pernas 180 graus completos, que, na verdade, o corpo não devia fazer.
“Você sabe de cara se é algo que vai mesmo querer fazer, porque exige tanto fisicamente e emocionamente, mas ao mesmo tempo, não há nada que lhe dê tal… (ele abre os braços e suspira profundamente).”
Impossível não nos reconhecermos nessas palavras. Tenho cá para mim que essa previsibilidade nos acalma. O mundo pode estar um caos, mas o plié continua sendo um plié há mais de trezentos anos. Não sabemos do amanhã, mas da sequência da barra a gente sabe. E essa busca incessante pela perfeição talvez seja para encontrar aquele momento mágico em que um movimento perfeito simplesmente acontece. Quem já conseguiu isso sabe do que estou falando. Um dia eu conto o meu…
E esse suspiro profundo no final? Entendemos muito bem do que ele está falando e, mesmo assim, não conseguiríamos explicar o seu significado a ninguém.
Por fim, acho que nos sentimos parte de algo muito maior. Não importa se somos profissionais, amadores, estudantes, o ballet clássico nos une em qualquer canto. E não apenas hoje, mas ontem e amanhã. Ou ninguém nunca pensou que os passos realizados na sua aula, a Anna Pavlova também os fazia no começo do século passado?
Essa dúvida do título não é apenas do irmão da Maria. Geralmente, é de todas as pessoas que não fazem ballet. Quem nunca ouviu um “Mas por que você faz isso? Não tem outra coisa?”.
Não, não tem.
Fonte: Dos passos da Bailarina
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